O poeta caminhoneiro
Cada curva, cada paisagem, cada pessoa, cada experiência foram fontes de inspiração para compor suas poesias.
Jaci Silva é um caminhoneiro aposentado de 88 anos de idade. Ele sempre foi um aficionado pelo universo dos caminhões. Para se ter uma noção de sua paixão, quando criança, ficava horas e horas sentado dentro da cabine de um caminhão Ford, ano 1929, de propriedade do seu avô. "Eu imitava o ronco com a boca, chegava até a ficar com os lábios roxos", diz rindo.Residente no Balneário Camboriú, SC, Silva deixou de ser caminhoneiro em 1985, quando se aposentou.
Jaci Silva apela para sua memória e diz que antigamente as maiores dificuldades encontradas nessa profissão eram as estradas de terra e as travessias em rios utilizando balsas como exemplo, a do Rio São Francisco, em Penedo, AL. Ele conta que tinha que descer a barranca do rio e entrar com o caminhão na balsa de marcha ré. "O mais difícil era fazer essa manobra à noite", fala.
Durante as suas viagens, na hora de descansar, para relaxar, escrevia poesias. "As viagens, as pessoas e os acontecimentos nas estradas foram minhas fontes de inspiração", diz.
Depois do falecimento de sua esposa, passou a escrever com mais frequência. "Foram 35 anos de convivência, sendo 15 anos morando dentro de um caminhão. Ela aprendeu a dirigir e me ajudava bastante quando estava cansado", diz o pai de quatro filhos: Ivo, Ilmar, Ivan e Iron.
O poeta caminhoneiro tinha um sonho: ver uma de suas poesias publicada na revista Caminhoneiro. Quando estava na ativa, todo mês pegava a revista nos postos de combustíveis. Desde então, Jaci Silva é seu fã e acompanha toda a evolução do segmento e do setor de Transporte Rodoviário lendo as matérias. "Hoje, os caminhões estão equipados com tecnologias que ajudam e facilitam a nossa vida. O ponto alto é o conforto", diz Silva que trabalhou 39 anos como caminhoneiro autônomo.
Durante a sua vida profissional, o que mais gostava era estar com o caminhão carregado, conhecer novas cidades e escrever seus poemas que encantam, até hoje, sua família e seus amigos.
Caminhoneiro
Fiz parte destes guerreiros
Que sem armas e cantil
Vão à luta muitas vezes sem glórias
Pelas estradas deste grande Brasil
Do volante fiz meu sacerdócio
Enfrentando estradas de asfalto,
terra, lama e poeira
De dia com sol ou chuva
À noite: solitária companheira
Orgulho-me de ter pertencido
A este exército de soldados
bravos e viris
Que transportam as riquezas do
nosso querido Brasil
Quantos heróis esquecidos
Neste campo de lutas tombaram
Deixando somente saudades
Aqueles que aqui ficaram
A muitos guerreiros restou,
De tantas lutas travadas
Alguns como recompensa,
Uma cruz à beira da estrada
Jaci Silva
Redação: Graziela Potenza
Foto(s): Divulgação
FONTE Revista O Caminhoneiro
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